Na fila do supermercado dia destes um moço que estava com a esposa olhou pra mim, cumprimentei-o, ele olhou minha modesta cestinha de compras e imediatamente cedeu-me o lugar na fila.
Fiquei constrangida, não sabia como agradecer aquele casal. O gesto foi bem simples, mas me desconcertou profundamente. O fato de eu ter menos produtos na cestinha que eles no farto carrinho foi decisivo para o gesto, mas o gesto é inusitado nos dias de hoje.
Por um momento hesitei em aceitar, mas acabei passando a frente, o que deixou o moço e a esposa ainda mais sorridentes. Incrível!
A cena do supermercado não me saiu da cabeça, pois me fez concluir que por estar tão acostumada a ver gente furando fila, e por vezes me pegar fazendo o mesmo no trânsito, comecei a achar natural quando numa sala de espera ninguém se levanta para uma idosa poder sentar-se, ninguém ajuda quando o outro precisa. Só que é nestes pequenos gestos que a gentileza se mostra no seu estado mais puro. É no gesto natural, que vem como um reflexo, que a gentileza aparece entranhada dentro de algumas pessoas.
O Profeta Gentileza, que espalhou palavras de amor pelos muros do Rio de Janeiro, tinha como lema que gentileza gera gentileza. O moço do supermercado conseguiu contaminar-me com este sentimento e até hoje tenho tido atos gentis, mas confesso que a maioria deles ainda é fruto da racionalidade. Invejo a gentileza espontânea de algumas pessoas. Que elas consigam contaminar outros tantos por aí.
Foto extraída do Museu Virtual Gentileza, oimpressionista.wordpress.com/museu-virtual-gentileza